A Universidade
Originalmente feito para O Manuscrito, publicação oficial do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de São Paulo (DCE-UNIFESP), este texto está agora em sua segunda versão: mais concisa e com um ponto mais bem discutido do que na versão original. Através deste texto, estou me propondo a falar um pouco sobre esta instituição tão famosa, porém tão pouco compreendida, que é a Universidade. O que a sustenta na sociedade? O que ela faz, de fato? Até quando ela vai durar? Temos muito no que pensar, então, comecemos.
A primeira pessoa que construiu uma Universidade dificilmente saberia que ela se tornaria tudo o que é hoje, com uma gama de significados que superam até mesmo nossa capacidade de compreensão. A Universidade, tal como a conhecemos hoje, deriva da Academia de Filosofia grega e das corporações de ofício da Idade Média. E essa forma de transmitir o conhecimento, com um mestre e aprendizes, e ainda com a aplicação desse conhecimento no mesmo contexto histórico, já pode surgir como uma definição moderna de Universidade. Eu presumiria, antes de tê-la conhecido um pouco mais, que a Universidade é uma instituição de ensino superior (graduação e pós-graduação), que realiza pesquisa nas áreas do saber em que atua. No entanto, também é incluída, atualmente, a extensão como parte integrante e indissociável de Universidade. Quem quiser ler textos a respeito, poderá procurar n’O Manuscrito alguns deles; falando de cada uma dessas pernas que sustentam a Universidade, o famoso tripé.
A princípio, temos que o ensino, a pesquisa e a extensão são partes integrantes da Universidade, cada qual tem uma relação com a sociedade. O ensino procura formar profissionais competentes e capazes de interagir com a sociedade e resolver seus problemas; a pesquisa tenta perseguir a inovação, e atender às demandas da sociedade e da Ciência, esta agora citada também como instituição; a extensão é aquela famosa via de mão-dupla, na qual a sociedade interage com a Universidade de maneira que ambas saem ganhando.
Mesmo sendo essas áreas passíveis de divisão para fins didáticos, na prática não podemos nem sequer pensar dessa maneira, o que seria um enorme erro. A Universidade possui essa grande diferença em relação a Faculdades ou Escolas: a grande quantidade de “conhecimento” disponível. Um mesmo graduando de qualquer curso - por exemplo, um aluno de Psicologia - pode tanto estar num estágio de Iniciação Científica e trabalhar com modelos experimentais de comportamento; trabalhar num projeto de extensão, fazendo orientação e prevenção em uma população de uma comunidade isolada; e se preocupar, ainda, com suas aulas para se formar um Psicólogo com conteúdo. A Universidade garante esse espectro ampliado, e isso é que faz com que os acadêmicos possam ter uma visão diferente dos não-acadêmicos.
A Sociedade está interessada na manutenção da Universidade na medida em que ela se sente atendida por esta instituição. Não estou falando de consultas ou exames num Hospital Universitário, somente, mas também da divulgação, por exemplo, de pesquisas sobre o vetor da dengue; do levantamento de dados sobre a população idosa para avaliação de riscos; de apresentações do coral universitário, ou também da organização, por parte dos estudantes, de um cursinho pré-universitário dirigido a alunos carentes da rede pública. Tudo está contido na definição anterior de Universidade. Aquilo feito pela Universidade não tem como finalidade apenas atender ou fazer a Sociedade sentir-se apreciada: como instituição autônoma, a Universidade tem suas próprias vontades e ambições, que devem sim estar em consonância com o Poder Público, que a patrocina (não totalmente, convém lembrar), mas não a serviço dele.
Essa condição é derivada de algumas modificações que atingiram o conceito de Universidade: temos que o grande templo do saber sentiu-se apto a existir somente de maneira independente. No Brasil, tivemos a Ditadura, e os focos de discórdia do sistema nasciam do Movimento Estudantil nas Universidades. A garantia de liberdade de pensamento e de ação era condição primordial para a existência completa da Universidade, e se fossem atreladas suas funções ao poder do Estado, nunca teríamos um funcionamento pleno das atividades da instituição, que são totalmente dependentes do livre-pensamento dos corpos docente e discente da Universidade.
A Universidade, como ideal, terá duração indeterminada. Mesmo tendo como modelos a Academia Grega e a Universitas medieval, que tem localização histórica entre 700 e 2400 anos atrás, temos ainda instituições semelhantes surgindo muito antes disso na África e na Ásia. Alguns filósofos, como Foucault, dizem que o conhecimento é antinatural. Concordo com eles quando dizem que estamos caminhando contra um instinto animal. Mas, se desde tão cedo se começou a organizar instituições para o saber, como pode a instituição conhecimento estar se opondo à naturalidade, à trajetória natural da humanidade? Sei que ignorante, mas isso me parece um contra-senso histórico. Se existisse um Deus do Conhecimento, ele se sentiria insultado. Aqui ficam os meus mais sinceros votos de que vocês desfrutem das amizades da corporação, que exercitem mentes e corpos nesta academia e que não se esqueçam jamais de que seus espíritos devem ser, mais do que nunca, Universais.
A primeira pessoa que construiu uma Universidade dificilmente saberia que ela se tornaria tudo o que é hoje, com uma gama de significados que superam até mesmo nossa capacidade de compreensão. A Universidade, tal como a conhecemos hoje, deriva da Academia de Filosofia grega e das corporações de ofício da Idade Média. E essa forma de transmitir o conhecimento, com um mestre e aprendizes, e ainda com a aplicação desse conhecimento no mesmo contexto histórico, já pode surgir como uma definição moderna de Universidade. Eu presumiria, antes de tê-la conhecido um pouco mais, que a Universidade é uma instituição de ensino superior (graduação e pós-graduação), que realiza pesquisa nas áreas do saber em que atua. No entanto, também é incluída, atualmente, a extensão como parte integrante e indissociável de Universidade. Quem quiser ler textos a respeito, poderá procurar n’O Manuscrito alguns deles; falando de cada uma dessas pernas que sustentam a Universidade, o famoso tripé.
A princípio, temos que o ensino, a pesquisa e a extensão são partes integrantes da Universidade, cada qual tem uma relação com a sociedade. O ensino procura formar profissionais competentes e capazes de interagir com a sociedade e resolver seus problemas; a pesquisa tenta perseguir a inovação, e atender às demandas da sociedade e da Ciência, esta agora citada também como instituição; a extensão é aquela famosa via de mão-dupla, na qual a sociedade interage com a Universidade de maneira que ambas saem ganhando.
Mesmo sendo essas áreas passíveis de divisão para fins didáticos, na prática não podemos nem sequer pensar dessa maneira, o que seria um enorme erro. A Universidade possui essa grande diferença em relação a Faculdades ou Escolas: a grande quantidade de “conhecimento” disponível. Um mesmo graduando de qualquer curso - por exemplo, um aluno de Psicologia - pode tanto estar num estágio de Iniciação Científica e trabalhar com modelos experimentais de comportamento; trabalhar num projeto de extensão, fazendo orientação e prevenção em uma população de uma comunidade isolada; e se preocupar, ainda, com suas aulas para se formar um Psicólogo com conteúdo. A Universidade garante esse espectro ampliado, e isso é que faz com que os acadêmicos possam ter uma visão diferente dos não-acadêmicos.
A Sociedade está interessada na manutenção da Universidade na medida em que ela se sente atendida por esta instituição. Não estou falando de consultas ou exames num Hospital Universitário, somente, mas também da divulgação, por exemplo, de pesquisas sobre o vetor da dengue; do levantamento de dados sobre a população idosa para avaliação de riscos; de apresentações do coral universitário, ou também da organização, por parte dos estudantes, de um cursinho pré-universitário dirigido a alunos carentes da rede pública. Tudo está contido na definição anterior de Universidade. Aquilo feito pela Universidade não tem como finalidade apenas atender ou fazer a Sociedade sentir-se apreciada: como instituição autônoma, a Universidade tem suas próprias vontades e ambições, que devem sim estar em consonância com o Poder Público, que a patrocina (não totalmente, convém lembrar), mas não a serviço dele.
Essa condição é derivada de algumas modificações que atingiram o conceito de Universidade: temos que o grande templo do saber sentiu-se apto a existir somente de maneira independente. No Brasil, tivemos a Ditadura, e os focos de discórdia do sistema nasciam do Movimento Estudantil nas Universidades. A garantia de liberdade de pensamento e de ação era condição primordial para a existência completa da Universidade, e se fossem atreladas suas funções ao poder do Estado, nunca teríamos um funcionamento pleno das atividades da instituição, que são totalmente dependentes do livre-pensamento dos corpos docente e discente da Universidade.
A Universidade, como ideal, terá duração indeterminada. Mesmo tendo como modelos a Academia Grega e a Universitas medieval, que tem localização histórica entre 700 e 2400 anos atrás, temos ainda instituições semelhantes surgindo muito antes disso na África e na Ásia. Alguns filósofos, como Foucault, dizem que o conhecimento é antinatural. Concordo com eles quando dizem que estamos caminhando contra um instinto animal. Mas, se desde tão cedo se começou a organizar instituições para o saber, como pode a instituição conhecimento estar se opondo à naturalidade, à trajetória natural da humanidade? Sei que ignorante, mas isso me parece um contra-senso histórico. Se existisse um Deus do Conhecimento, ele se sentiria insultado. Aqui ficam os meus mais sinceros votos de que vocês desfrutem das amizades da corporação, que exercitem mentes e corpos nesta academia e que não se esqueçam jamais de que seus espíritos devem ser, mais do que nunca, Universais.
4 Comments:
Entrei! XD
Ei Gabriel, esse texto está quase maior do que os meus! descobri teu blog cara. agora já era, sempre que eu puder, estarei aqui enxendo teu saco.
Oi Gabriel!
Adorei seu texto, muito bom. E quero agradecer seu convite feito a mim para lê-lo...
Vou colocar aqui o que pensei e senti ao ler o último parágrafo do seu texto. Não é, de modo algum, uma crítica, pois o texto não pede isso. É apenas uma pequena reflexão que tive ao ler esse trecho e gostaria de compartilhar com você.
Você ao final citou Foucault. Esse não é um autor que eu tenha profundo conhecimento e nem posso opinar sobre suas obras. Por isso mesmo, coloco a questão: que tipo de conhecimento Foucault diz ser antinatural? Há várias formas de conhecermos o mundo e não apenas racionalmente... podemos conhecer também pelas sensações, pelos afetos, inclusive pela Arte (a poesia, como você mesmo tem afinidade). Será que se houvesse, não apenas um Deus do Conhecimento, mas também uma Deusa do Conhecimento (representando esse outro tipo de conhecimento), ela não ficaria insultada com tamanho desprezo?
A racionalidade não é a única fonte de conhecimento e colocá-la como tal, ao menos para mim, parece (e de fato não sei se é para Foucault) ser antinatural. Assumir as sensações como formas de saber também possíveis acrescentaria e não retiraria a capacidade do humano no processo de conhecimento e isso não necessariamente seria um contra-senso, mas a superação e, com isso, o desaparecimento do contra-senso (o contra-senso aparece justamente quando dois pólos tentam disputar o mesmo espaço, conflitando-se e, nesse caso, não haveria conflito, mas, digamos, um diálogo). Enfim, penso que parece ser, sim, antinatural depositarmos apenas à racionalidade a capacidade, a experiência e a beleza do ato de conhecer. Natural é admitirmos o humano naquilo tudo que ele pode ser.
Um beijo e parabéns pelo texto!
Citei Foucault. Talvez um pedantismo sem tamanho. Li um texto dele, apenas. Li um pouco mais agora, antes de tentar responder suas questões... Mas não encontrei o primeiro texto. A rede que Foucault teceu de argumentação foi uma integração daquilo que eu citei a respeito dele. Selecionei o "grande espírito" daquele período e achei conveniente contrariá-lo na minha argumentação. Baseado naquilo que me recordo e no que li agora pouco, não eram citadas estas outras formas de conhecimento, que realmente de conhecimento são. E talvez a própria Deusa do Conhecimento tenha ficado aborrecida com meu "monoteísmo", mas, não nego de maneira alguma sua existência e os tipos de conhecimento que ela reconhece como seus favoritos. Apenas continuei a trilha do texto até o final, sem olhar muito para os lados ou para cima, se não, ele não terminaria nunca. Mas agora, que estamos discutindo, podemos conversar sobre quaisquer tipos de conhecimento, e reitero, é claro que os reconheço, no entanto, uma Universidade não te ensina a sentir, a palpar, a cheirar, a ter sentimentos.. Portanto, com um diálogo, como você mesma disse, entre estas formas de "conhecer" e o conhecimento racional, meu e de Foucault, teremos uma tendência sim natural, e cada vez mais humana, abrangendo aquilo que mais nos torna humanos: a dúvida, a incerteza e a curiosidade, que não deixam de ser formas de gnosia e de sentimentos.
Postar um comentário
<< Home