sábado, setembro 23, 2006

Da motivação para se seguir em frente

Não sei exatamente o que me leva a escrever este texto. Talvez por que os outros temas estejam se esgotando. Dentre os últimos já falei de experimentação animal (que até hoje gera comentários e discussões), falei também de beleza, no último deles. Já falei também da avaliação do curso médico com uma prova de qualificação. Pensando em novos textos tenho como temas futuros já bem estabelecidos o vegetarianismo e a relação entre ciência e fé, por exemplo. Aguardo ansiosamente os comentários.


Já faz alguns anos que comecei a pensar sobre isso. Penso que deve ser algo que todos já tenham pensado. O que se quer da vida? Por que querer isso? Como querer isso? Pra que querer isso? Essas últimas apenas têm sentido se respondida a primeira. Neste momento podemos invejar nossos pequenos colegas camundongos. Mesmo com um genoma 97% igual ao nosso, ele não tem tamanhas preocupações, e, se tem, não é por motivos tão sérios, ou melhor, tão complexos quanto os nossos. As grandes preocupações dos pequenos animais são do tipo comer e dormir.

Aí se encontra o primeiro ponto que eu gostaria de discutir. Temos todos essas necessidades básicas, que são exatamente aquelas nas quais coincidimos, em comportamento, com os camundongos. Uma pessoa com fome ou com sono, possui problemas diferentes daquelas que tem estas questões básicas por ora resolvidas. Se pensarmos, não são situações extremamente complexas. Podem ser resolvidas comendo e dormindo. Nada poderia ser tão fácil.

Fácil na aparência. Se pensarmos num trabalhador cuja preocupação é conseguir aqueles míseros trocados diários para poder matar a fome, não teremos uma situação "fácil". Quando uso esta palavra refiro-me à complexidade. Esta pessoa é mais comparável a um camundongo do que um adolescente em depressão sem motivo aparente. Podemos assim criar um conceito de "necessidades primárias", claro que ele é mutável ao nosso gosto e neste momento podemos incluir nessa categoria as necessidades de comer e de dormir.

Estando nossas necessidades primárias resolvidas, temos tempo para pensar em coisas um tanto mais elaboradas e talvez não tão importantes por classificarmos as mesmas como "secundárias". Penso que essa distribuição de valores é pouco válida mesmo nesse plano de idéias que estamos tecendo. Para um sujeito esfomeado é claro que a fome tem peso maior do que qualquer outra coisa. Para nosso jovem deprimido talvez essa depressão seja tão importante e presente que o deixe sem fome. Quão grande não seria o número da totalidade de verdadeiros níveis de representação? Infinitos, respondo. Não há necessidade alguma de ficarmos elaborando uma lista do primeiro ao enésimo grau de valor de importância de uma sensação. Pensemos apenas como primárias e secundárias à medida que temos umas anteriores filogeneticamente às outras.

E o que é a motivação? A motivação é aquilo que nos faz seguir em busca de um objetivo. Conscientemente ou não. Um tigre tem sim a motivação para caçar, ou então não caçaria. Nós temos a motivação para chorar, para demonstrar o amor por uma pessoa, para ouvir atentamente uma bela canção. O que gostaria de tratar, especificamente é daquela motivação que nos faz sair de um estado de catatonia, ou de um estado depressivo. Diferente da motivação que nos fez entrar nesta armadilha dos nossos pensamentos, a motivação para sair dela é diferente. Se pensarmos bem, esta motivação seria uma somatória de fé, desejo, esperança, superação. Chamarei essa resultante ainda de motivação. Não por que haja um "motivo" em questão (eu acho que há), mas por ser uma palavra multiuso, de significação ampla.

Durante o curso de psicobiologia, uma coisa que me chamou a atenção foi a terapia cognitiva e comportamental. Mais do que qualquer distúrbio nas neurotransmissões de um determinado tipo de neurônio, sempre pensei em uma falha da estruturação de pensamentos como causa de depressões. Pequenas falhas, às vezes imperceptíveis, podem nos levar ao completo desespero e à agonia, sendo que estes momentos preferivelmente devem permanecer apenas nas lembranças. O principal valor destes momentos é realmente o da experiência. O de saber como é. Mas, como muitas outras coisas, não é necessário sofrer para se dar o devido valor.

Acho que para continuarmos, precisamos definir depressão (nestes momentos eu apelo para o Wikipedia, afinal, uma boa discussão, para ser produtiva tem que conter os mesmos conceitos, ao contrário a discussão ficara acerca apenas dos conceitos, e não será nem iniciada, de fato): Depressão é um estado de tristeza, melancolia ou de desespero, tão avançado ao ponto em que um indivíduo perde sua função social e tem prejuízo nas atividades do dia-a-dia. Assim sendo, muitos de nós estaríamos deprimidos ou "quase deprimidos" com certa freqüência, correto?

A depressão pode ser deixada no momento em que surge uma corda para nos tirar do seu labirinto. O caminho existe, mas há de se segui-lo para se livrar da condição. Nem sempre a corda está evidenciada e a esta corda podemos dar o nome de motivação. A motivação é o caminho. A energia para percorrê-lo também deve existir. De nada adianta termos um mapa que aponta para a saída de um labirinto se não podemos andar. Essa imobilidade pode ser tanto causa quanto efeito da depressão, ou de uma condição "paralisante". Costumo pensar nela mais com uma conseqüência. Assim, para sair deste estado, podemos tratar das nossas pernas, nos apoiarmos no ombro de um amigo, ou calcar nossos sonhos na esperança e, por fim, nos agarrarmos à corda, seguindo-a rumo à saída.

Agora falemos da corda e da força que nos guia através dela. Por que a corda é a motivação e não a força? Na verdade ambas são faces diferentes da mesma moeda. A corda é mais material na nossa análise, então fica ela como nossa referência para a motivação. Esta corda nasce do puro instinto egoísta. Vejamos: o maior interessado em sair deste estado é o próprio indivíduo que o possui. Todo o apoio que vem dos amigos, da família, dos prazeres diários que ele não é mais capaz de sentir não são nada além de pequenos estímulos para a vontade própria da pessoa ser despertada e dirigida para sair desta condição para voltar a viver com plenitude. O instinto de sobrevivência e o egoísmo presente em todas as espécies conhecidas são as forças motrizes que impulsionam através da corda.

O que estou dizendo, é que nossa "motivação para seguir em frente", título desse texto é constituída de egoísmo e de instinto, em sua pura essência. Quase nada, além disso, é capaz de superar uma armadilha plantada na nossa mente com tamanha eficiência. Nossa motivação tem de ser algo egoísta. Podem parecer um tanto egocêntricas estas idéias, mas na verdade o altruísmo também é egoísmo. O paradoxo se desfaz quando percebemos que o fato de se ajudar e auxiliar os outros só faz sentido se trouxer prazer ou sensação de recompensa ao indivíduo praticante do mesmo. Uma essência evidentemente egoísta. Não há nada de errado nisso. Não gostaria estar colocando uma "estampa indelével de nossa origem evolutiva simplória" no ser humano, ao falar dessa maneira. Mas estou. Darwin acertou também nisso.

sábado, junho 17, 2006

A quantificação da beleza

Esse texto, mais do que uma dissertação ou análise, é uma reflexão sobre o Belo, sobre uma possível quantificação do grau de beleza de algo, seja uma pintura, uma música, uma escultura, um texto... Também com esse texto, gostaria de fazer um diálogo com outros textos afins [1, 2], discutindo algumas idéias e ratificando outras a respeito do julgamento do belo e do não-belo.

O que é o “Belo”? Uma vez um professor de história iniciou uma aula fazendo essa pergunta para minha sala. Entre respostas inúteis e comentários desinteressantes, eu preferi ser surdo. Até que depois de vários minutos de zumzumzum ele mesmo respondeu: “O belo é aquilo que representa uma época. Uma obra de arte só é bela se ela fizer sentido e resumir de alguma maneira toda a expressão cultural de uma época.” Achei uma “bela” resposta. Como exemplo, ele citou senão outra, a Gioconda, não só pelos belos traços, mas pelo resumo mecanicista do Iluminismo naquele quadro, pela perfeição simétrica, parecendo ter sido feito com esquadro e régua. Para quem leu o livro de Dan Brown (eu não li ainda) pode haver evidências de outros mistérios acerca da pintura, mas elas ficarão de fora dessa reflexão, pelo menos por enquanto.

Indo um pouco adiante na história da arte, temos a beleza evidente dos versos de Fernando Pessoa. O que fez desse poeta português tão brilhante? Era a pessoa certa na época certa, com os versos de verdades tão múltiplas quanto sinceras: “O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente./ E os que lêem o que escreve,/ Na dor lida sentem bem,/ Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm...” Poetas, críticos literários e muitos outros admiram esse poema (Autopsicografia) não só pelas rimas ricas e idéias bem elaboradas, mas por toda a inovação e beleza que o próprio texto inspira numa metalinguagem simplesmente brilhante, mas não demasiadamente complexa.

E o velho Machado de Assis? Nunca me perdoaria se não o citasse nesta reflexão: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas”. Inusitado, inovador, ousado. A reflexão da relação do homem com o seu mundo. Não se observa a antiga “beleza poética”, mas algo novo. Irônico e sincero: impactante. Talvez nessa contradição a beleza intrínseca da sua obra (Memórias Póstumas de Brás Cubas).

Agora, parafraseando um colega [1], também tenho o Moisés de Michelangelo como uma de minhas esculturas preferidas. Completamente justificável, para mim e para ele, a reação irada do mestre florentino que, após ordená-la a falar, não recebeu nada mais que a indiferença do profeta marmóreo.

Estranho que a justificativa do meu antigo professor de história para o Belo se encaixa de maneira ímpar e impecável para cada um dos exemplos selecionados. Não por algum acaso, com certeza, mas pela precisão encontrada por ele para definir o Belo para mentes “em desenvolvimento” para não dizer “subdesenvolvidas” no colégio. Agora, paremos para analisar o nosso próprio mundo. A era “Contemporânea”, com esse nome dado por historiadores na falta de outro mais significativo, poderia ser resumida a uma obra de arte? Quem conseguiria? Niemeyer? Eu até que não desgosto daquelas curvas todas, seria toda essa curvatura um reflexo da nossa sociedade? Estamos nos desviando do nosso destino ou algo assim? Prefiro as curvas góticas (opa!). A riqueza de detalhes das antigas catedrais é assustadora. Arcos ogivais e altíssimas torres rumo ao infinito. Uma espiritualidade enorme e sem fim. Possivelmente você leitor não gosta de tantas figuras de linguagem em uma só leitura. Então vou evitar as hipérboles, pelo menos, de agora em diante.

Voltando às curvas de Niemeyer. Temos ou não um resumo de nosso tempo? Se bem que o tempo dele já foi, certo? Então teríamos naquelas obras um resumo do século XX? Acho que fica mais fácil analisar isso daqui uns 50, 100 anos... Voltarei a discutir isso, se ainda em vida, daqui a algumas décadas.

Até agora falamos de artes um tanto quanto puras, elitizadas, como diriam alguns. Se formos para o que chamamos de cultura popular, e, mais especificamente, à música, podemos fazer análises ainda mais interessantes sobre o que é belo, de fato, e o que não é.

Dizem os antigos que música é a mistura de poesia, rítmo, harmonia e melodia. Eu, humildemente, introduzo o fator “complexidade” para minha análise. Não por eu me achar demasiadamente inteligente e por pretender entender musicalidades complexas, mas por ter chegado à conclusão de que o grau de “riqueza” de uma música depende da complexidade tanto da mistura de influências, quanto da complexidade de sua própria estruturação.

A sistematização do conhecimento humano e da própria memória em categorias coloca tanto Tati Quebra-Barraco quanto Beethoven na mesma categoria de “compositores”. Ainda bem que existem subcategorias como “Funk” e “Clássico” para separar os dois. Mas eu prefiro separar os compositores em mais duas categorias: “Ruim” e “Bom”. Já estando na devida respectividade de qual dos compositores vai para cada categoria, em ambas as classificações.

Poderíamos usar os critérios já existentes com a minha adição? Vejamos: poesia, ritmo, melodia e complexidade. Todos com pesos iguais, embora saibamos que em músicas instrumentais seria absurdamente injusta uma avaliação pelo item poesia, uma desonestidade sem tamanho. Temos portanto: Tati Quebra-Barraco com uma poesia mais inexistente do que a de Beethoven em seus clássicos instrumentais (desculpe, mas não consegui evitar a hipérbole), um ritmo constante e marcante. Talvez ela passasse com 5 ou 6 numa avaliação de coordenação motora e ritmicidade. Uma melodia invariada, desafinada e odiosa. A harmonia é de tamanha fraqueza que é de longe superada por relinchos, mugidos, latidos e urros pseudossincronizados. A complexidade obteria valor negativo se não estivéssemos trabalhando no conjunto dos números Naturais. A norma culta é tão existente quanto é presente nas conversas monofônicas de mus musculus em caixas de polipropileno. Não vou comentar sobre Beethoven para não mais rebaixar a já rebaixada compositora carioca.

Como um primeiro passo para a quantificação da beleza, deveria haver além do estabelecimento de uma escala, o estabelecimento de um zero. Lembrando da escala Kelvin de temperatura, que seria um bom modelo, deveríamos procurar uma música simplesmente na qual não houvesse música. Apesar das críticas, as músicas da Tati Quebra-Barraco ainda são músicas. Péssimas, mas músicas. O que seria o zero da música? Uma não-música? Quem sabe a baderna de uma sala de crianças no recreio? Ou então o mais absoluto silêncio? Num quadro, então. Temos tela em branco e os rabiscos de Miró. Ambos são não-arte, embora o primeiro seja puramente uma não-pintura e o segundo seja pura e simplesmente “pintura”. E na literatura? O que seria litearatura e o que não seria literatura? O que faz um texto ser literatura? Na opinião da Luciana 38, plantonista de Português do CUJA (Cursinho pré-Universitário Jeannine Aboulafia), todos os textos são literaturas, pois todos podem ser analisados. Apesar da verdade contida na afirmação da colega, não são todos os textos que fazem a diferença. No nosso dia-a-dia, quando tratamos de literatura científica, já estamos pensando em textos, papers, que fizeram certa diferença em alguma análise de observações e/ou de experimentos acerca de algo da biologia, da química, e de outras ciências. Muitos dos textos, e possivelmente também este, não contribuem significativamente para o progresso da humanidade. Talvez chamemos esse tipo de obra de “obra de arte”. Talvez... E talvez seja este também um texto literário. Mais metalinguagem impossível.

Por fim, gostaria de concluir que minhas idéias, na verdade são inconclusivas. Espero pelo menos ter colocado um pulga atrás da orelha, e ter propiciado uma pequena reflexão sobre os julgamentos de arte, sem um discurso “politicamente correto”, tratando não-arte como arte, não-belo como belo. Sem basear a análise na falsa prerrogativa de que “gosto não se discute”. O que se confunde neste dito popular é “gosto” com “liberdade individual”. Já comentei a respeito em outros textos [1, 2], com a análise culminando na existência da adoração do não-belo, que também é não-arte. E também da existência, muito frequente, da rejeição do belo, da arte, e do que realmente foi importante para a humanidade avançar culturalmente com o passar das eras.

A nossa sorte é que não se depende de uma adoração do belo por parte de toda a população para essa evolução acontecer. Basta uma pequena parcela. Mas essa pequena parcela decresce e a preocupação se dá na recuperação da consciência das elites, daqueles que precisam conhecer o belo para fazer a diferença e sustentar, como Atlas, a humanidade em seus ombros e levá-la adiante, em sua progressão cultural e não rumo ao apocalipse do desdém, do funk da Tati Quebra-Barraco, de auto-retratos de um boneco de palha e da auto-destruição da nossa cultura.


1. Marcelo Gonzaga de Oliveira, ALEA IACTA EST,
http://aedisvocis.blogspot.com/2006/06/artistas-e-arteiros.html
2. Rafael Alves da Silva, Beligerante Probidade,
http://belprob.blogspot.com/2006/01/nova-roupa-e-nova-arte.html

terça-feira, maio 02, 2006

A própria vida

(Gabriel Andrade Alves, 2005)

Sinto-me perdido
Em um pequeno mar de espinhos
Contido nesta pífia gota d'água
Que repousa sobre tua face

A inefável dor
De um sentimento esquecido
De uma alma desprezada
Num inerte além

Sim...
É o velho sentimento
Que ao próprio volta
Relembrando velhos dias de solidão

Sabes que a vida é única
E se forem várias
cada uma delas também é única
À sua propria maneira

E este sofrimento
Que será afastado
Com a batida de tambores ressonantes
Anuncia...

Grita aos ventos
Para ti e para mim
Que esta minha vida
Que é única
Também é tua
De maneira incondicional

quinta-feira, março 30, 2006

A Universidade

Originalmente feito para O Manuscrito, publicação oficial do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de São Paulo (DCE-UNIFESP), este texto está agora em sua segunda versão: mais concisa e com um ponto mais bem discutido do que na versão original. Através deste texto, estou me propondo a falar um pouco sobre esta instituição tão famosa, porém tão pouco compreendida, que é a Universidade. O que a sustenta na sociedade? O que ela faz, de fato? Até quando ela vai durar? Temos muito no que pensar, então, comecemos.

A primeira pessoa que construiu uma Universidade dificilmente saberia que ela se tornaria tudo o que é hoje, com uma gama de significados que superam até mesmo nossa capacidade de compreensão. A Universidade, tal como a conhecemos hoje, deriva da Academia de Filosofia grega e das corporações de ofício da Idade Média. E essa forma de transmitir o conhecimento, com um mestre e aprendizes, e ainda com a aplicação desse conhecimento no mesmo contexto histórico, já pode surgir como uma definição moderna de Universidade. Eu presumiria, antes de tê-la conhecido um pouco mais, que a Universidade é uma instituição de ensino superior (graduação e pós-graduação), que realiza pesquisa nas áreas do saber em que atua. No entanto, também é incluída, atualmente, a extensão como parte integrante e indissociável de Universidade. Quem quiser ler textos a respeito, poderá procurar n’O Manuscrito alguns deles; falando de cada uma dessas pernas que sustentam a Universidade, o famoso tripé.

A princípio, temos que o ensino, a pesquisa e a extensão são partes integrantes da Universidade, cada qual tem uma relação com a sociedade. O ensino procura formar profissionais competentes e capazes de interagir com a sociedade e resolver seus problemas; a pesquisa tenta perseguir a inovação, e atender às demandas da sociedade e da Ciência, esta agora citada também como instituição; a extensão é aquela famosa via de mão-dupla, na qual a sociedade interage com a Universidade de maneira que ambas saem ganhando.

Mesmo sendo essas áreas passíveis de divisão para fins didáticos, na prática não podemos nem sequer pensar dessa maneira, o que seria um enorme erro. A Universidade possui essa grande diferença em relação a Faculdades ou Escolas: a grande quantidade de “conhecimento” disponível. Um mesmo graduando de qualquer curso - por exemplo, um aluno de Psicologia - pode tanto estar num estágio de Iniciação Científica e trabalhar com modelos experimentais de comportamento; trabalhar num projeto de extensão, fazendo orientação e prevenção em uma população de uma comunidade isolada; e se preocupar, ainda, com suas aulas para se formar um Psicólogo com conteúdo. A Universidade garante esse espectro ampliado, e isso é que faz com que os acadêmicos possam ter uma visão diferente dos não-acadêmicos.

A Sociedade está interessada na manutenção da Universidade na medida em que ela se sente atendida por esta instituição. Não estou falando de consultas ou exames num Hospital Universitário, somente, mas também da divulgação, por exemplo, de pesquisas sobre o vetor da dengue; do levantamento de dados sobre a população idosa para avaliação de riscos; de apresentações do coral universitário, ou também da organização, por parte dos estudantes, de um cursinho pré-universitário dirigido a alunos carentes da rede pública. Tudo está contido na definição anterior de Universidade. Aquilo feito pela Universidade não tem como finalidade apenas atender ou fazer a Sociedade sentir-se apreciada: como instituição autônoma, a Universidade tem suas próprias vontades e ambições, que devem sim estar em consonância com o Poder Público, que a patrocina (não totalmente, convém lembrar), mas não a serviço dele.

Essa condição é derivada de algumas modificações que atingiram o conceito de Universidade: temos que o grande templo do saber sentiu-se apto a existir somente de maneira independente. No Brasil, tivemos a Ditadura, e os focos de discórdia do sistema nasciam do Movimento Estudantil nas Universidades. A garantia de liberdade de pensamento e de ação era condição primordial para a existência completa da Universidade, e se fossem atreladas suas funções ao poder do Estado, nunca teríamos um funcionamento pleno das atividades da instituição, que são totalmente dependentes do livre-pensamento dos corpos docente e discente da Universidade.

A Universidade, como ideal, terá duração indeterminada. Mesmo tendo como modelos a Academia Grega e a Universitas medieval, que tem localização histórica entre 700 e 2400 anos atrás, temos ainda instituições semelhantes surgindo muito antes disso na África e na Ásia. Alguns filósofos, como Foucault, dizem que o conhecimento é antinatural. Concordo com eles quando dizem que estamos caminhando contra um instinto animal. Mas, se desde tão cedo se começou a organizar instituições para o saber, como pode a instituição conhecimento estar se opondo à naturalidade, à trajetória natural da humanidade? Sei que ignorante, mas isso me parece um contra-senso histórico. Se existisse um Deus do Conhecimento, ele se sentiria insultado. Aqui ficam os meus mais sinceros votos de que vocês desfrutem das amizades da corporação, que exercitem mentes e corpos nesta academia e que não se esqueçam jamais de que seus espíritos devem ser, mais do que nunca, Universais.

domingo, outubro 16, 2005

Poema artefactualmente escrito

(Gabriel Andrade Alves, 2005)

O que inspira o ar
A soprar entre as rochas
Formando ventos pesados
Ou rochas etéreas

Aquilo que traz a mim
a pena para eu traçar
o ego do próprio pássaro
Que me emprestou sua essência
Esta que voa e chora
Derramando o líquido vital por toda parte
Lembrando-me da Filosofia
E da própria biologia ensinada a mim
Pelos mestres Gregos

Traria a ti novamente
aquilo que me fez desistir
aquilo que me trouxe o mar
aquilo que fez a vida novamente bela
Novamente bela e novamente bela...
Como se em ciclos infinitos

Existe algo que explica
Sem analisar
E que desmancha
ao mesmo passo que sintetiza
Aquilo que nos remete a nós mesmos
Como se lembrássemos...
Acordando de um platônico sonho

Asas na mente e no coração
Nos sentimentos puros e tristes
Ou no alegre desespero sadio
A contradição intrínseca no torpor
E nas nossas vidas
Há algo que nos quer
Ao mesmo tempo que nós o queremos

Interpreto a chave
que não possui fechadura
que nem está numa porta
que talvez nem encaixe
Mas que mesmo assim abre

Vislumbra-se aquilo
Que não é direto
não é obsoleto
nem enfadonho
tampouco desprezível

Ao mesmo tempo que a vida o é
Ela não é. E nunca será.

A razão circunda sua cintura
sem segurar
Enquanto o coração encara seus olhos
tentando se apaixonar.

E voltamos a viver nossas vidas...

terça-feira, setembro 27, 2005

O uso de animais no ensino e na pesquisa científica

No dia 3 de Setembro, creio eu, ouvi a apresentadora Luísa Mell, pela qual não consigo nutrir tão bons sentimentos, em seu programa “Late Show” dar a notícia de que havia sido aprovada no Estado de São Paulo a Lei nº. 11.977/2005 (claro que ela não me forneceu tantos dados). Tal lei regulamenta uma série de fatores com relação ao tratamento de animais, transporte, uso em pesquisa científica entre outros, e já é conhecida como "Lei dos Bichos".

É necessário haver regulamentação, sem dúvida alguma, para não haver abusos, e neste quesito, e apenas neste, devo congratular o deputado Ricardo Trípoli (PSDB), autor da Lei, publicada no Diário Oficial de São Paulo no dia 26 de agosto. A outra face a ser discutida é a da idéia por trás dessa lei: o que motivaria, além da razão já explicitada, sua criação.

Vou me ater ao que mais me chamou a atenção e ao que mais me diz respeito: a utilização de animais no ensino e na pesquisa científica. Entre proibições e limitações a lei presume a criação de uma CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais) para cada centro de pesquisas. Essa CEUA deve receber e aprovar cada protocolo de pesquisa que utilize animal, incluindo principalmente (e é basicamente para isso que ela existirá) o número total de animais utilizados, o método utilizado para sacrifício, e as condições de tratamento durante o período experimental.

Para meus amigos que não estão familiarizados com esses termos, vou explaná-los brevemente:

- Número de animais: Pede-se que seja utilizado o menor número possível de animais por experimento, sem estabelecer um máximo. Essa ausência de máximo é necessária, pois cada experimento requer um número mínimo, que é bastante variável dependendo das circunstâncias experimentais. É uma norma ética e justa, comumente adotada entre os pesquisadores, pois poucos gostam de dispor do seu tempo e de verba para comprar, cuidar e fazer experimentos com animais “extras”.

- Método de sacrifício: varia de acordo com o que o experimento e o cuidado com o material analisado exigem. Por exemplo: se fosse objetivo do experimento estudar nervos sensitivos não se poderia utilizar um anestésico em dose letal como método de sacrifício. É desestimulado o uso de qualquer método que cause sofrimento desnecessário ao animal, como, por exemplo, por inalação de éter.

- Condições de tratamento: é necessário haver quantidade suficiente de espaço, água e comida para o animal, além de um ambiente controlado e o mais adaptado possível à vida selvagem do animal. A exceção é a de que esses fatores estejam sendo estudados, como, por exemplo, mistura de água e álcool no lugar de água para avaliação do efeito crônico da ingestão de álcool em ratos, ou do efeito da luminosidade excessiva (por um período maior que o padrão de 12h) na produção de melatonina.

Saindo um pouco da máscara didática desse texto, vou discutir agora um pouco do que me propus no início do mesmo: a filosofia do "não uso" de animais em aulas/pesquisa.

Já faz algum tempo que tenho percebido uma intensificação na freqüência com que são noticiadas manifestações em defesa dos "direitos dos animais". Eu também protesto contra a exploração indevida e predatória das matas brasileiras, que acaba com a fauna da maior biodiversidade do planeta. Mas quando manifestantes afirmam categoricamente que os animais utilizados em pesquisa são mal-tratados e que qualquer experimento que utiliza animais como ferramenta deva ser eliminado, sendo julgados todos eles desnecessários e dispensáveis, tenho úlceras, como diria um filosofante da terrinha, e eu tenho vontade de repetir o que ouvi uma outra vez: qualquer uma dessas pessoas que se manifesta contrariamente à utilização de animais na pesquisa científica, se assinar um termo no qual conste que esta nunca se utilizará de produtos ou drogas cujos benefícios fornecidos totalmente ou em parte pela pesquisa em animais, este indivíduo ganharia meu respeito por ser uma pessoa coerente com seu pensamento e ideologia.

Toda essa filosofia contra o uso de animais é condenável a partir do momento em que é quase certo que cada um dos manifestantes desse pensamento já se beneficiou ou se beneficiará de técnicas cirúrgicas, medicamentos, implantes, tratamentos, dietas entre outras benfeitorias na área da saúde conquistadas com a pesquisa em animais de laboratório.

A hipocrisia intrínseca a este pensamento está mais explicitamente associada à nossa querida lei a partir da Seção III – Da Escusa ou Objeção de Consciência. Para exemplificar vou transcrever o artigo 39, o primeiro da dita seção:

Artigo 39 - Fica estabelecida no Estado a cláusula de escusa de consciência à experimentação animal.
Parágrafo único - Os cidadãos paulistas que, por obediência à consciência, no exercício do direito às liberdades de pensamento, crença ou religião, se opõem à violência contra todos os seres viventes, podem declarar sua objeção de consciência referente a cada ato conexo à experimentação animal.”
Lendo por uma segunda vez o Artigo 39, destaquei as passagens em negrito acima. Não sei se é coisa da minha cabeça... Se uma pessoa repudia a violência contra todos os seres viventes, tomaria ela, para tratar de uma infecção, um antibiótico? He he... Agora falando um pouco mais sério... O que a “violência” referida neste artigo tem a ver com a objeção de consciência à experimentação animal? O que motivou Ricardo Trípoli a fazer tal associação? Aposto na desinformação, na ingenuidade ou até mesmo na ignorância do deputado. Alguém suficientemente esclarecido com uma mínima noção de realidade e de mundo não teria essa ousadia de falar e tampouco propor um projeto de lei declarando a todos os cidadãos, em alto e bom som, sua incompetência legislativa.

Para falar das aulas utilizo a mesma seção III da lei. Temos o § 3 do Artigo 42, transcrito abaixo:

“§ 3º - No âmbito dos cursos deverão ser previstas, a partir do início do ano acadêmico, sucessivo à data de vigência da presente lei, modalidades alternativas de ensino que não prevejam atividades ou intervenções de experimentação animal, a fim de estimular a progressiva substituição do uso de animais.”
De súbito vejo o nível da minha formação superior descer degraus e mais degraus. Já estamos numa onda de “utilização de outros meios” que não a aula prática com animais, mas como já dizia o professor Nilson, do Departamento de Psicobiologia: “rato branco não é que nem japonês: não é tudo igual”. Ou seja, em que planeta poderia um software ou um rato mecânico (proposta que já ouvi de várias pessoas como alternativa) nos ensinar sobre a variabilidade entre os animais ou mesmo sobre dificuldades técnicas que podem ocorrer durante os procedimentos experimentais? Poderia citar diversos exemplos como um espermograma realizado em rato na aula de Embriologia no qual os espermatozóides morreram durante o procedimento devido ao tempo perdido durante a obtenção do material... Ou mesmo resultados superestimados obtidos na pesagem das glândulas tireóides na aula prática de modelos experimentais de diabetes em Fisiologia Endócrina. Nem sempre um rato desenvolve padrões epilépticos como os observados por dois grupos de cinco totais durante a aula prática de Epilepsia em Neurofisiologia.

São tantos exemplos que extrapolam a capacidade cognitiva dos nossos legisladores... Não devemos criticar apenas Ricardo Tripoli, autor da lei, mas toda a Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo. Apesar do inteligente veto do Governador Geraldo Alckmin, a lei foi aprovada depois da anulação do ato do Governador pela Câmara e mesmo com algumas mudanças a Lei continuou com defeitos inerentes à sua motivação e estrutura.

Finalizando, gostaria de pedir desculpas pela desordem das minhas idéias. Fiz o melhor que pude para dois pedaços de noite e nesse meio tempo, inclusive, descobri alguns nomes e reli grande parte da lei aqui discutida. Abraços a todos, especialmente aos colegas médicos que me odeiam tanto devido ao último texto e aos terapeutas ocupacionais que se sentem discriminados (nada de japoneses, computeiros, engenheiros, direiteiros filosofantes, etc etc etc, desta vez nos agradecimentos) Até uma próxima vez.
*Agradecimentos especiais à Ketna que gentilmente revisou o texto e forneceu apoio moral e psicológico

sábado, agosto 27, 2005

Exame de Ordem para Medicina

Não foi um dia ordinário. Acordei atrasado, não fui para a aula, resolvi questões financeiras do Centro Acadêmico, distribuí os agasalhos recém-chegados, assisti a uma das aulas mais densas do semestre (nunca vi tantos neurônios produzindo tantas substâncias diferentes em uma só aula.. nem na aula de neuroquímica! Neuroendocrinologia é um campo de estudo interessante, no entanto.) E por fim, depois da aula, assisti ao que vem a ser o principal tema desse texto: Um debate sobre Exame de Ordem para Medicina entre um representante do CREMESP e uma acadêmica da DENEM (Direção da Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina)

Para começar (e situar meus colegas perdidos) temos alguns fatos: O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) realizará uma avaliação de caráter não obrigatório neste e no próximo ano (2005/6) para médicos recém-formados ou com um ano de diploma. Essa avaliação não elegerá aqueles que podem exercer a Medicina ou não, mas apenas avaliará os recém-formados com a intenção de "separar o joio do trigo" nessa plantação heterogênea que é o ensino médico no estado de São Paulo.

A classe acadêmica discorda desse formato de avaliação e apresentou alguns argumentos interessantes durante sua exposição. Realçou que não pode haver uma avaliação "final", apenas no final do 6º ano, que habilitará, ou não, um formando para o exercício da Medicina. O que faria, depois de 6 anos de faculdade, um "Bacharel em Medicina"? É, de fato, interessante como eles se comportam com essa questão. Eu, isento de qualquer vassalagem ideológica, pensei com meus botões: "Eles acham tão significativo esse 6º ano que nenhum outro curso de perído integral possui... Eu estou estudando aqui, por 4 anos, para me formar 'Bacharel em Ciências Biológicas - Modalidade Médica'. É tão feio assim? Seria a Medicina um curso tão superior que todos seus acadêmicos teriam capacidade de sair habilitados para a prática médica?" Claro que não. Eles sabem disso e deixaram claro durante as exposições. Tanto o CREMESP quanto a DENEM.

Então eu não sabia mais o que pensar. Eu saio do meu curso habilitado para... Hum... Pesquisar! Hehe... Isso qualquer formando de qualquer curso pode fazer. Até mesmo o coitado do "Bacharel em Medicina" pode fazer isso. Conclusão parcial: Coitados dos Biomédicos. Mas pelo menos nos avisaram que iria ser assim antes de fazermos a matrícula. Eu não tenho pena dos "médicos" que um dia possam vir a não ter habilitação. Isso foi levantado meia dúzia de vezes durante o debate e a última resposta dada foi a de que isto seria pensado quando e se o exame de ordem for um dia obrigatório. Por enquanto a reprovação no exame não significa impedimento para o exercício da Medicina.

Ouvi citações de Descartes durante uma das perguntas e sinceramente muito pouco entendi. O que seria essa idéia de questionamento, reconstrução do conhecimento? aplicadas a um possível exame de ordem? Boiei... Não fez sentido nessa cabeça oca que possuo. Talvez o Rafael me fale melhor disso depois. Não sei se ele se interessa por isso, mas suponho que sim. Ainda mais sobre Exames de Ordem, visto que no final do curso de Direito há um para os aspirantes a advogados... (7% de aprovação no último exame... nossa!...).

Sinto que perdi o fio da meada. Voltando. Uma avaliação seriada, proposta pelos acadêmicos de Medicina, parece ir ao encontro das metas do CREMESP. Todos brigam por uma mesma causa, a melhoria da qualidade do ensino Médico, e de um controle mais eficiente dos novos profissionais que entram no mercado, seja com o impedimento da abertura de novas escolas, seja com uma avaliação mais rígida. A diferença é que enquanto os estudantes defendem uma avaliação institucional o CREMESP propõe uma avaliação externa às instituições. Neste ponto eu me sinto obrigado a concordar com o professor de Cardiologia da UNIFESP, Membro do CREMESP, Dr. Bráulio, que não importa o quanto esperemos, as instituições nunca vão se auto-avaliar de maneira adequada, padronizada e confiável.

Posso questionar, no entanto, como fez a DENEM, da isenção do CREMESP para tal responsabilidade. Todavia, eles possuem o mérito de serem os pioneiros no país a realizar esse tipo de avaliação. Seria um bom princípio, segundo eles. Lembro que eles foram criticados quanto ao "caráter científico", ou experimental, da prova. Não vi nenhum absurdo na construção do raciocínio dessa parte. Não li as referências citadas e nem pretendo, que o façam as partes interessadas. Não desisti de entender esse tema ainda, mas não vou ativamente atrás dessas informações, pois para mim a Microbiologia no momento é mais importante que qualquer exame de ordem.

Eu também tenho um exame muito importante assim que eu acabo a faculdade, que é a prova de pós-graduação. E pretendo passar para pode continuar nesta adorável vida acadêmica que eu escolhi pra mim. E para chegar até a prova da pós eu preciso passar de ano. Abraços a todos!

segunda-feira, junho 27, 2005

Uma visita ao antro dos Moleculentos

Esclarecendo a piada interna do título, Moleculento é como apelidamos os graduandos (como o Vitor) em Ciências Moleculares, sem maldade, inveja ou qualquer tipo de desdém. Apenas uma brincadeira pura e inocente. Pois bem, visitei a USP esses dias. não que eu a tenha conhecido por completo, de fato, conheci apenas uma pequena parte da "gloriosa". Mais especificamente, conheci (em ordem cronológica): uma entrada lateral com os muros pichados (um dos dizeres: "USP racista: cotas já!"), a raia olímpica, o CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), o Favo 22 (Sede do Curso de Ciências Moleculares) e o Bandejão próximo a esses dois últimos.

Não foi difícil chegar ao muro pichado. Com boas instruções do Vitor (pegar a linha verde do metrô, descer na Vila Madalena, pegar a ponte ORCA com destino a estação de trem Cidade Universitária, cruzar a ponte e descer pelo caminho de cimento) foi simples e levei menos do que o planejado para chegar até lá. Ou seja, esperei meia hora pelo Vitor na escada da estação Cidade Universitária.

Sem maiores problemas andamos por uns 15 minutos e chegamos ao Favo 22. Conheci a sede do curso e fiquei admirado com a estrutura montada para os alunos. Senti uma ponta de inveja, mas esta logo se dissiparia... Brincamos um pouco nos computadores do laboratório de computação enquanto os colegas do Vitor chegavam. Nove da manhã e a aula começa. Aula de Bio, como eles dizem. Se fosse na Unifesp, a aula seria de Biofísica e de Biologia Molecular/Bioquímica. Engraçado... Tive aulas muito semelhantes, e eu estava lá justamente na hora da "prova" deles. Era uma espécie de discussão na qual a professora pedia para um ou dois alunos esclarecerem um ponto que já havia sido levantado em outra aula e explicassem para a turma.

A professora era, sem dúvida, muito boa. Claro! Era Biomédica da 2ª turma (para ter uma idéia a minha é a 38ª) formada na antiga Escola Paulista de Medicina, que hoje também se chama Universidade Federal de São Paulo. Docente de Farmacologia por 15 anos na Unifesp, atualmente ela se encontrava na USP. Muito boa não quer dizer perfeita, no entanto. Gostaria de ter levado o Vitor para ter visto uma das diversas aulas que eu tive sobre o mesmo tema para que ele pudesse ter tirado as conclusões. A professora dele havia estado presente na banca de doutorado da minha professora, mas no mundo acadêmico os Estudantes costumam superar os Mestres.

Antes do almoço ouvi discussões sobre o curso, a situação atual e a posição dos estudantes. Bem... semelhanças, muitas semelhanças... Com vantagens conjunturais para ambos os lados. Enquanto a essência do curso deles permanece intacta, o meu passa atualmente por uma reestruturação, perdendo um pouco da "filosofia inicial" de Pesquisa e Docência. Nós temos um Centro Acadêmico atuante, uma organização política mais bem estabelecida. Senti que eles deveriam se organizar, mas como adicionar mais uma tarefa ao conturbado dia dos moleculentos? Não que o meu dia seja fácil, ele não o é. Mas o trabalho pode ser mais dividido, visto que temos mais estudantes.

Na parte final da minha visita, fomos almoçar. Nem é tão ruim assim o bandejão da USP. E dizem que eu fui ao pior deles... Recomendaram o da Física... OK, Vitor? Da próxima já sabe! Lombo, farofa, arroz e feijão, além de pãozinho e suco amarelo. Nada mal. Comemos e depois conversamos um pouco. Descobri que uma colega do Vitor é amiga de uma caloura minha. Mundo pequeno... Era hora de me despedir daquele mundo diferente, cheio de pessoas inteligentíssimas, e voltar para o meu, com o qual estou mais à vontade. De que as ciências básicas são as mais belas eu não tinha dúvida, mas depois da visita à USP tive a certeza de que estou no rumo certo bem longe da "gloriosa". Talvez ela atravesse meu destino um dia, mas não por agora. :-)

Abraços!

Eis uma pequena introdução

Amigos! A exemplo de alguns colegas e seguindo minha própria vontade de ter um blog, cá estou, inaugurando o blog Poemas, Textos e Canais Iônicos. O título não é original, o template, pelo menos por enquanto, vai ser este simplezinho mesmo... Mas pelo menos isso deve parecer um blog. Aos poucos vou consertando e concertando tudo isso.

Sem mais, gostaria de mandar um abraço aos leitores e a meus amigos filósofos, moleculentos, computeiros, direiteiros, e afins. O endereço ficou fácil né? Fiquem à vontade para elogiá-lo.

Até Breve!